E se por cá alguém - IPLB, Ministério da Cultura ou APEL - levasse a cabo uma iniciativa semelhante?!
Que resultados teríamos?!
Será que iríamos ver as respostas habituais aos inquéritos sobre a leitura em que todas as pessoas dizem que o último livro que leram foi um clássico da literatura portuguesa?!
Seria com toda a certeza muito interessante tentar comprovar se afinal o que acontece é que temos uma imensa minoria que lê muito e com critério, por oposição a uma maioria que lê pouco, de maneira desarticulada e de forma pouco formal.
Procurar rever o próprio critério de leitor... enquanto leitor? enquanto leitor de livros? enquanto leitor de um critério específico de livros?
Num país onde parece que a crise da leitura é permanente, mas onde ao mesmo tempo se editam livros com facilidade, as edições repetem-se de forma quase automática e onde se batem records nacionais de vendas... seria interessante saber quais os títulos favoritos dos portugueses!
Modestamente, aqui fica lançado (novamente) o repto!
Em 2003, o programa da BBC The Big Read promoveu uma votação para eleger os 200 romances favoritos dos ingleses. Participaram centenas de milhares de pessoas. Cito apenas os vinte e um primeiros títulos, por ordem decrescente e com o título inglês O Senhor Dos Anéis (J. R. R. Tolkien), Orgulho e Preconceito (Jane Austen), His Dark Materials (Philip Pullman), The Hitchhiker's Guide to the Galaxy (Douglas Adams), Harry Potter e o Cálice de Fogo (J. K. Rowling), Não Matem a Cotovia (Harper Lee), Winnie the Pooh (A. A. Milne), 1984 (George Orwell), O Leão, a Bruxa e o Armário (C. S. Lewis), Jane Eyre (Charlotte Brontë), Catch-22 (Joseph Heller), O Monte dos Vendavais (Emily Brontë), O Canto do Pássaro (Sebastian Faulks), Rebecca (Daphne du Maurier), Uma Agulha no Palheiro (J. D. Salinger), O Vento nos Salgueiros (Kenneth Grahame), Grandes Esperanças (Charles Dickens), Mulherzinhas (Louisa May Alcott), O Capitão Corelli (Louis de Bernieres), Guerra e Paz (Leo Tolstoi), E Tudo o Vento Levou (Margaret Mitchell).
Como se vê, predominam textos célebres entre crianças e adolescentes, quase todos com uma nítida componente de fantasia (Tolkien, Pullman, Rowling, A. A. Milne, C. S. Lewis, Grahame, o mais adulto e estrambólico Adams, mas também a mais didáctica Alcott). Depois, marcam presença alguns clássicos (Austen, as irmãs Brontë, Dickens, Tolstoi) e clássicos contemporâneos (Orwell, Heller, Salinger, e esse caso único que é Harper Lee). Por fim, temos os romances de sucesso, como os dramalhões de época (du Maurier, Mitchell) e dois êxitos recentes (Faulks e De Bernieres).
Esta selecção mostra 1) que os livros que lemos quando somos novos nos marcam para sempre. 2) que alguns clássicos prestigiados podem gozar de grande popularidade. 3) que a popularidade de certas obras pode destronar o juízo meramente literário. A literatura popular não esgota o campo da literatura, mas é determinante na produção de imaginários, referências, mitologias, comunidades. Os 20 romances do programa The Big Read dão por isso indicações preciosas sobre como é o povo inglês.
E se alguém tentasse fazer o mesmo por cá?
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