quinta-feira

Nunca leio um livro que tenho de criticar; influencia-me muito!*

Um amigo que sabe que estou a moderar um Grupo de Leitores enviou-me (como provocação) um artigo - Faking it - que foi publicado no New York Times sobre um livro que tem estado nos TOPs em França: How to Talk About Books You Haven’t Read (Como Falar dos Livros que Não Lemos?) de Pierre Bayard.

Por mais estranho que esta situação possa parecer - tendo em conta as minhas actuais funções no Grupo de Leitores - tenho de reconhecer que tal situação é possível e mais frequente do que se possa imaginar. Já todos ouvidos alguém falar com bastante propriedade de livros sobre os quais se nota que só leram a contracapa, deduziram pelo título ou pelo género literário do autor, ou seja, personagens muito semelhantes à do "Pacheco" criada por Eça de Queirós.

A edição portuguesa é da Verso de Kapa que apresenta o livro assim:
Trata-se de uma análise feita sobre o acto de ler ou melhor; sobre a acto de não ler! Este livro é, sobretudo, um ensaio inteligente sobre as várias formas de apreciar um livro. A leitura da primeira à última página, em ordem e sem saltos, é apenas uma entre inúmeras possibilidades – e nem sempre a mais compensadora. O livro largado a meio, ou nas primeiras páginas, ou lido aos pedaços, ou apenas folheado – todos eles fazem parte do histórico do leitor. Isto é válido não apenas para os clássicos mais portentosos como também para as obras de consumo rápido. As quase-leituras são, de acordo com Bayard, tão válidas quanto a leitura integral. Aliás, a ideia de que se pode ler um livro por inteiro é ilusória. As pessoas começam a esquecer uma página quando começam a ler a seguinte. Com o tempo, vão confundindo as obras, ou esquecem-nas totalmente e quando são chamados a dar sua opinião, acabam por falar não do livro efectivo, mas da lembrança imperfeita e distorcida que guardaram dessas mesmas obras. O título é polémico e dá a sensação que a opinião do autor é a de incentivar à não leitura, mas o que se pretende é ensinar a “ler”, não é ler por ler (sem reter), mas saber ler de forma a conseguir falar daquele livro e de outros, sem ter lido tudo. É um livro paradoxal. O autor pretende desmistificar a ideia de que ler um livro é uma coisa que leva muito tempo e apresenta técnicas para não ler, levando assim à leitura. Como já dizia Óscar Wilde "A crítica literária é uma forma de autobiografia. Fale sempre do significado pessoal que um livro tem para si – mesmo que não o tenha lido".

O 1º capítulo do livro pode ser lido aqui.
* Citação de Oscar Wilde.
Imagem: Editora

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