terça-feira

Cesário Verde, um génio ignorado

Amanhã, dia 5 de Dezembro às 21:30, decorre no auditório da Biblioteca Municipal de Oeiras a apresentação do mais recente livro de Maria Filomena Mónica Cesário Verde, um génio ignorado. A apresentação da obra será feita por Francisco José Viegas, director da Casa Fernando Pessoa.



"Nas nossas ruas, ao anoitecer / Há tal soturnidade, há tal melancolia/ Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia /Despertam-me um desejo absurdo de sofrer." Maria Filomena Mónica revê-se nos versos de Cesário Verde, os mesmos que abrem o poema "O sentimento de um Ocidental."

Para a escritora, também filósofa e historiadora, Cesário é o maior poeta moderno português. Um homem capaz de pintar as ruas de Lisboa com palavras, de mudar a tradição poética portuguesa.

"Eu quero criar uma polémica sobre quem é maior: se é o Fernando Pessoa, se é o Cesário. Temos de estar gratos ao Pessoa, porque foi ele, 40 anos depois do Cesário morrer que, pela primeira vez, disse: "Este é um grande poeta". Mas não é um poeta menor ao pé do Pessoa, pelo contrário", explica Maria Filomena Mónica.

O poeta ignorado
Cesário nasceu em 1855 em plena Baixa Pombalina e morreu 31 anos mais tarde, vítima de tuberculose. Nos finais do século XIX, era ignorado e pouco respeitado pelos poetas da época. Na biografia que escreveu, Maria Filomena Mónica compara os versos de uns e outros para mostrar a genialidade de Cesário.

"Ele tem a capacidade de comunicar emoções, de nos transmitir imagens. Ele está sempre a olhar o mundo como se fosse uma criança, tem um olhar cândido sobre tudo o que vê. As metáforas dele são absolutamente fabulosas, a adjectivação é absolutamente original. Ele fala de uma rapariguinha que é meiga e míope. Ninguém se lembraria de dizer meiga e míope.", acrescenta.

Cesário deixou cerca de 30 poemas, e muita documentação sobre ele desapareceu num incêndio na quinta que tinha em Linda-a-Pastora. Para escrever a biografia, Maria Filomena Mónica baseou-se na correspondência que sobreviveu. A autora contextualiza a época para melhor compreensão dos versos. Tal como escreve no livro: "Um poema não é um meteorito, mas o resultado da imaginação de alguém que viveu num certo tempo e num determinado país."

Um conselho aos jovens
Maria Filomena Mónica descobriu tarde o gosto pela poesia. "Os versos que me obrigaram a decorar no Livro da 3ª classe, "Batem leve, levemente", de Augusto Gil e, no liceu, alguns cantos de "Os Lusíadas" não me haviam deixado boas recordações", escreve a autora.

Aos jovens diz: "esqueçam a escola, esqueçam o que dizem os professores, esqueçam os termos da gramática e comecem a ler por puro prazer." Aconselha a leitura da poesia em voz alta, principalmente a de Cesário Verde. Um poeta de quem, diz, é fácil gostar.

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