quinta-feira

Formação I

Desde há algum tempo que tenho algumas dúvidas sobre a formação dos bibliotecários em Portugal. Não vou enveredar por uma análise qualitativa dos diferentes cursos nem vou fazer juízos de valor sobre as opções dos curricula das diferentes instituições. Outros locais e entidades devem chamar a si essas responsabilidades.

Alguma das dúvidas que ao longo dos últimos 7 anos me têm surgido têm mais a ver com as variantes que a formação tem vindo a tomar: formato, duração, saída profissional, etc. Mas isto ficará para próximos posts!

Recordo-me de há 5 ou 6 anos ter ouvido alguém comentar que já existia em Portugal uma licenciatura em Ciência da Informação. Nessa altura fiquei um pouco admirado com essa realidade, porque tendo feito um bom trabalho de casa (achava eu!) relativo às habilitações necessárias para aceder à profissão, nunca tinha visto referida esta licenciatura. Fiquei desde logo atento a quaisquer movimentações legislativas e/ou académicas que fizessem rever o já agora praticamente defunto Decreto-Lei 247/91; mas nunca ouvi nada sobre isto. Lembro-me de quando começaram a surgir os Mestrados em Ciências Documentais muitas pessoas dizerem que a formação profissional teria obrigatoriamente de mudar e que daqui em diante nada seria igual.

Quase 5 anos depois está tudo praticamente na mesma. Salvo a revogação do referido Decreto-Lei, tudo se mantém igual. Continuam os cursos de pós-graduação (agora mestrado) em Ciências Documentais/Ciências da Informação, continuam as licenciaturas também na área e aparentemente nada se alterou.

Apesar de conhecer bastante melhor a vertente profissional da administração pública, também tenho conhecimento de colegas que trabalham em empresas privadas. No entanto, é curioso que na maioria das vezes estes empregadores reproduzem o modelo de contratação da administração pública: licenciatura complementada por uma pós-graduação.

As minhas grandes questões são:
Os colegas que frequentam as licenciatura em Ciências Documentais/Ciência da Informação conseguiram encontrar trabalho na nossa área com essa habilitação?
Houve necessidade de fazerem a pós-graduação em Ciências Documentais para puderem ingressar na carreira da administração pública, tal como estava previsto no Decreto-Lei n.º 247/91?
Acharam que a formação que tiveram ao nível da licenciatura (4 anos) foi adequada às funções a desempenhar nas bibliotecas para profissionais com formação específica de 2 anos?

Confesso que estas e outras perguntas às vezes andam pela minha cabeça... Se estiver por ai alguém que me possa ajudar, agradecia!

4 comentários:

MCA disse...

Caro Bruno, as tuas questões são muito pertinentes. Empenhei-me na formação em Ciências Documentais durante alguns anos, numa época em que ainda não havia licenciaturas e apenas 3 cursos de especialização no ensino público e 1 no privado (UAL).
Defendi e defendo que a formação de licenciatura em qualquer área + especialização é a melhor solução (a solução ideal não existe). Podia explicar-te porquê mas não quero abusar da tua caixa de comentários.
Reconheço que não vale a pena remar contra a corrente e a corrente que vem de Bolonha é muito forte. A tendência tem sido para nivelar por baixo e não vejo maneira de contrariar isto.
Abraço

MCA disse...

Desculpa um lapso, havia apenas um curso no privado (UAL) antes de eu entrar num novo projecto privado. Estive na criação do curso da Lusófona e tenho muito orgulho no trabalho que fiz enquanto lá estive.

Anónimo disse...

Considero que o Projecto de Bolonha, para muitos cursos como é o caso do de História, é meio caminho andado para a sua extinção.

Quanto á formula que eu apanhei como estudante de Licenciatura (4 anos)+ Pós-Graduação CD (2 anos) considero-a a melhor até hoje.

Bruno Duarte Eiras disse...

Olá, Clara
Eu tenho muitas dúvidas quanto ao melhor percurso formativo para a nossa área. Para o bem e para o mal a especialização que existe noutros países e a corrente de Bolonha estão a decidir o futuro da formação em Portugal. No entanto, concordo contigo quando dizes que se está a nivelar por baixo, a proliferação de curso, as diferentes designações e as interpretações da legislação que regiam os CECD (e consequentemente os Mestrados) permitem muitas possibilidades.
Ainda assim mantenho em aberto outros caminhos desde que valorizem a formação dos profissionais, dando-lhe o maior número possível de competências, numa área cheia de desafios e em constante evolução.
Abraço,

Suse,
Como colegas de Pós-Graduação sabemos que também essa via tinha as suas falhas, ao nível da formação, quanto estrutura para formar bibliotecários. Mas será que agora está melhor. O futuro o dirá...
Bjs,