terça-feira

Conversas de biblioteca XXII

Um leitor regular de uma biblioteca pública próxima de Lisboa vai à sua biblioteca e vê uma bandeira do Vaticano afixada junto à entrada.

Admirado com o facto, resolve entrar para ver o que se passa e logo no átrio da biblioteca vê uma fotografia do Papa Bento XVI no meio de uma exposição de documentos sobre a religião católica e com um apelo à participação numa das missas prevista para esta semana.

Em jeito de curiosidade resolve perguntar aos funcionários se por acaso estivesse prevista a visita do Dalai Lama ou de qualquer outro líder religioso também seria afixada uma bandeira junto à porta.
Aproveitou também esta oportunidade para ver que documentos tinham na biblioteca sobre o Judaísmo, Islamismo, Budismo, ou Hinduísmo.

Nenhum dos funcionários presentes conseguiu dar uma resposta decente ao leitor, nem referir documentos representativos de outras religiões em quantidade e diversidade.

8 comentários:

macy disse...

Mas qd o próprio governo fomenta essas diferenças nada mais me admira!
É a miséria de país que temos....
Eu que até sou ateia, fico chocada com essas situações mas de facto já nada me surpreende. Só nós portugueses para admitirmos tanta diferença de tratamentos.
Afinal somos um país laico ou só no papel? Porque tem a religião católica mais direitos?
Enfim, está na nossa natureza aturar tudo sem reclamar....
macy

MCA disse...

Sinto-me à vontade para dizer isto porque não sou religiosa.
Em primeiro lugar, a bandeirinha e o apelo à missa é disparatado mas uma exposição esclarecedora (não sei se é o caso...) sobre um tema da actualidade como é a visita do líder de uma religião com a representatividade que tem o catolicismo em Portugal, parece-me absolutamente adequado. Isso não invalida que possam fazer-se exposições do mesmo tipo em relação às visitas de outros líderes religiosos importantes (e a importância não é uma questão neutra, ela pode medir-se pela sua representatividade, nomeadamente na comunidade local que a biblioteca serve).
Outra questão, bem diferente, prende-se com o acervo. A ausência de bibliografia sobre religiões é um problema de política de aquisições para a qual a biblioteca tem autonomia. Essa questão deve ser encarada sem sectarismo e colocada no mesmo plano, por exemplo, da quase total ausência de boa bibliografia sobre música e, principalmente, de partituras nas bibliotecas públicas ((o que eu já pude verificar num estudo que fiz).
As coisas não se podem colocar em termos de "contra" ou "a favor" ou eu teria de achar que havia alguma espécie de descriminação ou má vontade contra a música.
É uma questão de cultura: cultura dos utilizadores e cultura dos bibliotecários.
Outras abordagens parecem-me desadequadas.

Dani disse...

Não conheço muito bem a realidade no seu país, mas não acho certo sobre o que Macy diz no comentário anterior. Não acredito que a religião católica tenha mais direitos, mas sim que o responsável por essa biblioteca não tem é discernimento decente sobre o que colocar e o que NÃO colocar num cartaz. Uma biblioteca, principalmente pública tem de respeitar todas as religiões, seja ela cristã ou não. Não acredito que tal religião seja mais poderosa que outra, mas sim que há valores diversos, que o profissional deve respeitar, pois se ele se diz disseminador da cultura, deve respeiá-la em seu todo.
Abraço.

Daniela Kanno Vieira - Brasil

macy disse...

Dani, A religião católica tem mais direitos sim. Lamentavelmente, acredite ou não tem.
Abraço
macy

Bruno Duarte Eiras disse...

Infelizmente, não tenho muitos detalhes sobre esta história. Apenas sei que estava a ser feito um claro convite à participação na missa em Lisboa e que estava tudo com alguma falta de objectividade e isenção.
Acho que as bibliotecas públicas devem ter sempre a preocupação de ser inclusas e de nunca tomar partido, já que informar não significa opinar. Se esta fosse uma exposição esclarecedora (o que acho que não aconteceu) tudo estaria bem... Mas a bandeira, a fotografia e o apelo à missa... hum?!

Bruno Duarte Eiras disse...

É verdade que a religião Católica tem mais direito, mas pelo menos nas Bibliotecas Públicas devia ser tratada da mesma forma. Este tratamento tendencioso dos assuntos preocupa-me no contexto da missão das BP.

macy disse...

Este tratamento tendencioso preocupa-me em todos os contextos...

Anónimo disse...

Quem dirige e organiza este eventos têm de ter alguma sensibilidade, e preservar a neutralidade religiosa, neste caso em especifico, pois pode vir a ferir susceptibilidades tal como veio a acontecer.

http://bibarqmus.wordpress.com/