segunda-feira

Manuel de Arriaga - 1º Presidente da República Portuguesa

Em 2001, meses antes de me inscrever na Pós-Graduação em Ciências Documentais, tive a grande oportunidade de trabalhar no arquivo particular de Manuel de Arriaga, na altura com documentação praticamente inédita e que estava à guarda da família desde a sua morte.
Como até aquela altura poucas pessoas tinham tido acesso à documentação, grande parte dos documentos ainda se encontravam com organização deixada pelo próprio ou pelo seu filho que anos mais tarde tentou organizar o arquivo.

Neste trabalho de organização, inventário, transcrição e estudo de diversos documentos, tive oportunidade de ler cartas que o Primeiro Presidente da República Portuguesa escreveu e recebeu, manuscritos de discursos políticos, poemas, documentos pessoais e políticos e consultar o seus diários.

Das 2967 cartas, datadas entre 1868 e 1917, constam para além de numerosas cartas de Manuel de Arriaga, muitas outras de personalidades como Bulhão Pato, Latino Coelho, Teófilo Braga, Guerra Junqueiro, Basílio Teles, Duarte Leite, António José de Almeida, Afonso Costa, João Chagas e Brito Camacho, bem como um surpreendente conjunto de missivas anónimas, dirigidas ao recém-empossado Presidente da República, dando conta dos mais variados sentidos críticos e expectativas em relação à conturbada situação que vivia o regime republicano nos seus primeiros anos.

De todos os documentos consultado recordo em especial aqueles que davam conta das dificuldades por que Manuel de Arriaga passou enquanto primeiro Presidente da República e as condições em que viveu nesse período; muito tempo antes da noção de despesas de representação ou de estado. Para ficar a conhecer melhor este período sugiro a leitura do seu livro Na Primeira Presidência da República Portuguesa.

Aproveitando as comemorações da República aqui fica a homenagem a esta figura da República que ao longo da sua vida e do seu mandato como Presidente demonstrou ter personalidade, carácter e valores que mesmo naquele tempo já não eram muito comuns. Uma figura importante do movimento republicano português muitas vezes relegada para segundo plano.
Foi uma excelente oportunidade de trabalho e um grande privilégio poder consultar alguma da documentação mais importante para a compreensão da implantação da república em Portugal.


Manuel José de Arriaga Brum da Silveira nasce dia 8 de Julho de 1840 na cidade da Horta, Ilha do Faial da Região Autónoma dos Açores. É filho de Sebastião de Arriaga Brum da Silveira e de Maria Antónia Pardal Ramos Caldeira de Arriaga. Casa com Lucrécia de Brito Furtado de Melo, de quem tem seis filhos. Morre em Lisboa com 76 anos e vai a enterrar no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa. No 16 de Setembro de 2004, os seus restos mortais são trasladados para o Panteão Nacional.

Percurso profissional

Conclui Direito na Universidade de Coimbra em Maio de 1866 e nesse mesmo ano, acumulando com a advocacia, ocupa o lugar de professor interino de Inglês no Liceu de Lisboa. Nomeado reitor da Universidade de Coimbra logo após a proclamação da República, toma posse do cargo na Sala dos Capelos a 23 de Outubro.

Percurso político

Manuel de Arriaga, um dos 12 signatários do programa das Conferências Democráticas do Casino, procura imprimir ao movimento republicano um carácter mais popular e assumidamente antimonárquico. Com base numa intensa actividade oratória em comícios de propaganda como deputado unificador do movimento republicano, é relator do Projecto de Organização Definitiva do Partido, documento que sistematiza pela primeira vez o ideário republicano, articulado com a regulamentação dos seus órgãos constituintes. É preso na sequência de manifestações patrióticas de protesto contra o Ultimato Inglês de 1890 e nove anos depois abandona a vida política, dedicando-se à advocacia e à escrita.

Mandato presidencial

Primeiro presidente constitucional eleito no meio de forte competição em Agosto de 1911, no seu discurso de posse, Manuel de Arriaga afirma-se depositário da "simpática missão de chamar à conciliação, à paz, à ordem, à harmonia social a família portuguesa, em nome da Liberdade, em nome da República, em nome da nossa libérrima Constituição", missão essa que cedo se revela espinhosa, à medida que rivalidades e lutas começam a minar a família republicana. Ao abandonar a presidência da República, dedica-se à redacção das suas memórias e publica o seu último livro intitulado Na Primeira Presidência da República Portuguesa. Um Rápido Relatório, com o qual procura justificar a sua conduta política.

Fonte: Museu da Presidência

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