Depois do congresso é tempo de reflexões e conclusões pessoais.
Tal como já tinha reparado no 8º Congresso apercebi-me que existem diferentes graus de qualidade nas comunicações apresentadas, tanto a nível científico, como técnico e até mesmo de capacidade exposição oral. Uma palavra para as apresentações que mesmo quando o secretariado do Congresso informa de que se dispõe de 20 minutos, algumas pessoas trazem apresentações de 30 ou 40 minutos, num claro desrespeito pelos restantes comunicantes e também por quem está a ouvir.
Sugiro que no próximo Congresso a BAD faça como nos Óscares de 2006 em que sempre que alguém ultrapassada o tempo definido a banda começava a tocar!
No entanto, o momento alto do Congresso foi o painel sobre "Blogs no domínio da Ciência da Informação" organizado por Luísa Alvim do Viva biblioteca viva.
Aconteceu um daqueles momentos em que se criam laços entre as pessoas e em que se apercebe que dali podem surgir dinâmicas e contactos que dêem os seus resultados em prol da nossa área profissional.
Das intervenções do Pedro Príncipe, do Adalberto Barreto, do Júlio Anjos, do Paulo Sousa e da Maria Clara Assunção foi possível ver o alcance e o impacto que os blogs podem ter nesta área. As reacções do auditório também ajudaram a antever os desenvolvimentos que ansiosamente se aguardam no biblio-blogosfera.
Vários colegas com quem falei manifestaram algum pesar pela falta de visibilidade que o Congresso de BAD tem, muito embora aconteça apenas de 3 em 3 anos.
Lembro que a comunicação social apenas relata o que é "NOTÍCIA" e apara isso temos de trazer para debate temas que sejam mobilizadores do meio social, tais como o "empréstimo pago" ou a "liberdade no acesso à informação". Da mesma forma importa referir que convém que as decisões saídas de anteriores Congressos tenham seguimento! Alguém sabe que rumo tomou a "Declaração do Estoril" ou a "Moção sobre Formação BAD" aprovadas no 8º Congresso de BAD?! Afinal já passaram 3 anos!
Apesar de me limitar a pagar as cotas da APBAD acho que a associação deveria ter um papel mais activo e interventivo no meio profissional e social! E neste caso contra mim falo.
Acho que a Associação e os seus profissionais deviam trabalhar de forma mais próxima para produzirem mais e melhores resultados para si e para a área profissional. Exige-se muito da BAD, mas os profissionais também não aderem; os profissionais por vezes estão disponíveis, mas a Associação também não responde convenientemente.
Ainda sobre o 9º Congresso de BAD sugiro a leitura das reflexões do Pedro Príncipe.
7 comentários:
Ainda não me fiz sócia da bad, apesar de já ter frequentado alguns cursos, muito caros por sinal. Ainda não consegui perceber se terei vantagens em fazer-me associada, para além dos descontos dos cursos.
Bruno
obrigada pelas suas palavras e fiquei francamente admirada com as pessoas que criam e escrevem em blogues nesta área e que eu só conhecia da net. Jovens inteligentes que não pretendem nada mais do que partilhar informações, conhecimento, opiniões sem atacar ninguém, sem dizer mal de ninguém, o que hoje em dia é raro e por isso, tal como acontece com o Bruno, são profissionais "preciosos" que muito têm a dizer, também por esta postura, aos mais velhos que por cá andamos. Desejo o melhor para o Bruno e vivam as bibliotecas vivas.
Luísa Alvim
Parabéns à Luísa Alvim e aos biblio-bloguers da nossa praça!
Além do painel sobre weblogs, outra das coisas francamente boas do 9.º Congresso da BAD foi a prestação dos profissionais de Oeiras. Um exemplo de coesão, qualidade e inovação no sector das bibliotecas públicas.
A propósito do seu último §:
A BAD é dos seus associados e precisa da nossa participação activa.
Sou sócia da BAD desde 2001. Até 2005 limitava-me a pagar as cotas a tempo e horas. Quando em 2005 fui à minha 1.ª Assembleia-Geral da BAD e verifiquei a fraquíssima participação (meia dúzia de pessoas literalmente), decidi ser mais interventiva. Disse aos colegas da Direcção que podiam contar comigo para a redacção de textos, tomadas de posição da Associação, etc. Foi nesta ordem de ideias que aceitei participar na Comissão Científica do 9.º Congresso Nacional da BAD.
Há muitas questões que podemos e devemos discutir no seio da BAD. Há imensas iniciativas que podem e devem congregar os associados e dar sentido à vida associativa.
Totoia,
A vantagem de ser sócio da apBAD, para além dos descontos nas formações, é a possibilidade da participação na vida associativa... que infelizmente é muito reduzida. Ainda assim acho que vale a pena associar-se. :-)
Luísa Alvim,
Obrigado pelas suas simpáticas palavras. Foi também um prazer conhece-la e ficar a saber quem mantém "vivas as bibliotecas vivas".
Cláudia Castelo,
talvez o que me está a fazer falta (e a muitos dos associados) é ir a uma Ass-Geral da BAD...
Quanto à participação dos colegas das BM Oeiras só foi possível graças ao contributo de toda a equipa para apresentar no Congresso de BAD o trabalho que temos desenvolvido.
Olá Bruno,
O primeiro congresso em que participei foi o de Braga (1992). Passados quinze anos e vários congressos da BAD, é-me possível identificar um conjunto de tendências, que se tem vindo a acentuar:
1. A emergência de uma pseudo–cientificidade. Os congressos são aproveitados para cumprir o ritual de apresentação dos resultados das dissertações de mestrado e das teses de doutoramento que, na maior parte dos casos (e com honrosas excepções), não trazem nada de novo nem de interessante. Faço notar que os discursos estão cada vez mais distanciados das práticas. Obviamente que é mais fácil dizer do que fazer e, neste ponto concreto, a pseudo-cientificidade serve mais para afirmar pessoas do que instituições.
2. A ausência de um debate participado e incisivo. A ausência do debate decorre, na minha leitura, de três factores fundamentais: a) o número excessivo de comunicações, que acabam por sobrecarregar o congresso com intervenções de qualidade e pertinência duvidosa; b) a falta de respeito de muitos colegas pelo tempo que lhes é concedido, tempo esse que devida ser utilizado para o debate; c) a falta de hábito de discutirmos publicamente os nossos pontos de vista, o que nos leva a não conseguir ter posições comuns enquanto classe profissional.
3. A falta de tomada de posições públicas por parte da classe. Os congressos da BAD só interessam aos profissionais da BAD. A ausência de uma cobertura por parte da comunicação social faz com que seja um congresso autista e autofágico. Os congressos são reuniões magnas e momentos únicos de tomada de posição por parte dos profissionais, mas, por exemplo, o que é que o cidadão comum ficou a saber sobre o impacto que o empréstimo pago vai ter na sua vida. Nenhuma.
4. O esmorecer do entusiasmo dos profissionais. Perdeu-se, no caso das bibliotecas públicas, a chama dos primeiros tempos da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas. Perdeu-se o capital de esperança que investimos na possibilidade de efectivamente nos constituirmos como uma rede cooperativa, em que o todo fosse maior do que a soma das partes. O que resta é um conjunto vasto e mais ou menos heterogéneo de bibliotecas públicas que nunca conseguiram afirmar-se junto das comunidades que servem e dos políticos que decidem o seu futuro. Restam também alguns casos de bibliotecas públicas de sucesso (justificável muitas das vezes por uma combinação única e instável de vontade política e de dinamismo profissional) que poderiam servir de motor para criar a rede cooperativa. Mas falta a visão estratégica dos profissionais e a vontade política dos decisores de topo.
Penso que é fundamental repensarmos os congressos da BAD. Deixo aqui quatro sugestões para o próximo Congresso da BAD:
1. Um congresso com menos comunicações (= maior selectividade e menos pseudo-cientificidade);
2. Um congresso com mais painéis (= para agregar num mesmo espaço profissionais com os mesmos interesses e com vontade de tomar posições e desenvolver acções comuns);
3. Um congresso com mais tempo para debate (= maior equilíbrio entre o tempo para as apresentações e o tempo para os debates);
4. Um congresso com maior intervenção pública (= fazendo chegar à opinião pública, através da comunicação social, a dimensão política do nosso trabalho).
Já agora, em jeito de nota final, gostava de referir que no repto que lancei aos meus colegas das Bibliotecas Municipais de Oeiras para participarem no Congresso da BAD foram três coisas: 1. Expressarem as suas opiniões pessoais de forma clara e fundamentada (mesmo que contrariassem as minhas opiniões sobre os mesmos assuntos); 2. Adoptassem um registo de reflexão crítica sobre o seu trabalho (e não somente a descrição do que fazemos); 3. Respeitassem escrupulosamente os 20 minutos que nos eram dados (por razões de eficácia de comunicação e por respeito pelos regras).
Saudações cordiais
Filipe Leal
Rede de Bibliotecas Municipais de Oeiras
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