quarta-feira

Próxima estação: grandes livros

Esta notícia tem data de finais de Junho, mas ainda assim achei por bem traze-la aqui pelas várias questões que levanta e por estarmos na altura do ano referida! Numa altura que ando às voltas com a descoberta e o aprofundar de um novo conceito nas bibliotecas - reader development - todas estas questões são familiares e levantam-me várias dúvidas e incertezas...

"Grandes livros não têm estação, diz Paula Moura Pinheiro
A sazonalidade da leitura existe, mas os grandes livros não têm estação, defendeu a jornalista Paula Moura Pinheiro quinta-feira à noite, na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, num debate subordinado ao tema "Existem livros de Verão?".

"Nós temos as nossas próprias estações do ano que muitas vezes não coincidem com as estações do ano exteriores", observou Paula Moura Pinheiro, actual subdirectora da RTP2 e responsável pelo programa Câmara Clara.

Na sua opinião, só "quando o Verão interior e o Verão exterior coexistem", entendendo-se o primeiro como "disponibilidade ou tempo mental" e o segundo como "tempo" físico, se poderá falar em "livros de Verão", no sentido de leituras que as pessoas guardam para um período em que não estão a trabalhar, por se tratar de obras de maior fôlego, que exigem maior concentração.

"Durante o resto do ano, as pessoas estão cansadas e não têm tempo e a falta de qualidade de vida - frisou - é absolutamente desmobilizadora da leitura".

A jornalista rejeita igualmente a ideia de entretenimento ligada à literatura, por causa da história que a palavra "entretenimento" arrasta consigo, que não é compatível com a sua visão do que é a literatura.

"Eu não me entretenho com maus livros - a ligeireza de Verão não se aplica à literatura", sustentou.

Também Carla Hilário Quevedo, autora do blogue Bomba Inteligente, considera que não há livros de Verão.

"Mas de qualquer forma - argumentou - se há debate sobre esse tema, e se há livros classificados como sendo de Verão, é porque isso interessa às editoras, que haja livros que as pessoas compram para ler no Verão".

Segundo a bloguista e tradutora, há dois tipos de leitores, "os leitores que lêem e os que não lêem - e estes últimos são os que compram os livros de Verão".

O director-geral da editora ASA, Manuel Alberto Valente, pegou neste conceito dos não-leitores, e explicou que "foram eles que fizeram crescer o mercado editorial português".

"Do ponto de vista de quem edita, admito que há alguns livros que são sazonais, mas também penso que, de uma determinada maneira, todos os livros entretêm", defendeu.

Manuel Alberto Valente tem constatado, ao longo da sua experiência editorial, que "os leitores que não lêem, e que têm todo o direito de não o fazer, lêem no Verão como entretenimento".

"Temos um bocadinho a ideia de que toda a gente tem de funcionar como nós, mas as pessoas lêem aquilo que querem ler e há quem queira ler Dostoievski e quem queira ler Margarida Rebelo Pinto", comentou.

Em jeito de conclusão, Carla Hilário Quevedo tentou definir "o livro de Verão ideal".

"É o livro que se pode sujar com bronzeador, cujo peso não deve ultrapassar o de uma toalha de praia seca, que não tenha sido muito caro, para não termos pena se lhe acontecer alguma coisa, e de um género literário adequado à circunstância", rematou."

2 comentários:

Sofia disse...

Bruno, achei este post deveras interessante!
Nunca ponderei a existência ou não de livros de verão, mas a verdade é que passo as semanas que antecedem as minhas férias a recolher livros para ler nesse período.
Creio que na minha experiência pessoal, isto acontece porque, ao contrário da opinião da Carla Quevedo, leio muito. Não só textos, artigos e livros relacionados com a nossa profissão, mas também literatura. Isto traduz-se num adiar permanente de determinadas leituras, que acabam por só ter lugar na praia. Dou-lhe um exemplo: há 5 anos que quero ler a Anna Karenina do Tolstoi e nunca o consegui fazer. Está em primeiro lugar na bagagem, para ver se nestas férias é que é.

Bruno Duarte Eiras disse...

Também acho que não existem leituras de verão. Podem, contudo, existir livros que as pessoas gostam de ler em ambientes mais descontraídos, mas sempre por oposição ao que se lê no resto do ano. Essencialmente acho que tudo varia em função do tipo de leitor. Importa sim não fazer juízos de valor sobre as leituras, mas salientar a importância de ter boas experiências de leitura.
Acima de tudo acho que estamos mais uma vez com a ideia do canon a ter de se sobrepor aos gostos individuais. Ao longo do ano também vou juntando livros para ler nas férias... mas raramente consigo cumprir o objectivo e a fila de livros "a ler" vai aumentando: como diz o slogan de uma editora "tantos livros e tão pouco tempo".